![]() |
| Imagem retirada do livro memórias paroquiais de 1758. |
Tem próprio termo (Concelho), e no desta freguesia só tem a aldeia chamada das Hortinhas, meia légua distante desta Vila, que se compõe de 30 visinhos (fogos) e 70 pessoas.
Desta Vila se descobrem as Vilas de Monsaraz distante três léguas, a de Cheles do Reino de Castela duas léguas, e mais a de Alconchel no longe de quatro léguas; célebre pelo forte e cerrado do seu Castelo, e digno de memória pelas repetidas vezes que se tem visto o gasto pelas armas Portuguesas.
A sua Paróquia, ou Matriz se vê logo da estrada da Vila, e a ela contigua, pela parte do Poente, para onde respeita a porta principal da mesma. Veneram por seu Orago ao Príncipe dos Apóstolos São Pedro, cuja imagem se vê colocada no altar maior de sua parte, e da outra a da Senhora da Conceição. Tem mais quatro altares postos a face da Igreja: Um do Santo Nome de Jesus; os outros três de São Miguel, Nossa Senhora do Rosário e de São Francisco. Tem as irmandades do sacramento; De São Pedro, que é de Eclesiásticos; de São Miguel e Almas e do Rosário. A renda da Capela do Santo Nome administra o Prior com um Escrivão (Aquele que dominava a escrita e a usava) e um Tesoureiro. Sendo todas da jurisdição Real, por serem leigas ás Irmandades. Tem São Francisco sua ordem terceira, de que é comissário o Reverendo Comissário dos Terceiros dos Religioso observantes do Concento de São Francisco da Vila de Olivença.
![]() |
| Igreja Matriz da Vila de Terena |
É este templo de uma só nave, e de muito suficiente capacidade para o número de fregueses por cujo zelo de poucos anos se acha reedifica-lo. Tem esta Igreja Matriz um Prior, e dois Beneficiados curados que propriamente são coadjutores do Prior. São da apresentação Real, por serem inteiramente de seu Padroado. Tem de renda o Prior trezentos mil réis; e cada um dos Beneficiados cinquenta.
Há neste termo (Concelho) duas Paroquias: De São Tiago Maior e de Santo António (Capelins), distantes uma légua da Vila: criadas para mais fácil, e cómoda administração dos Sacramentos que não poderia haver da Igreja Matriz, por causa da distância. São este dois curados da apresentação do Excelentíssimo Ordinário; e as Igrejas sufragâneas(Que depende de um superior) da Matriz, por cujo motivo pagam por título de reconhecimento, cada um dos curas 400 réis anuais ao Prior da Matriz. A sua côngrua (imposto que por meio de contribuição ou derrama Paroquial se dá a Curas, Párocos ou Cónegos, para viverem nas Freguesias onde não há os dízimos eclesiásticos) é constituída pelos seus Paroquianos, cuja importância com melhor averiguação exporão os ditos curas.
Não Logra (estar na posse de) esta Vila ou o seu termo (Concelho) a ventura de ter Convento de alguma família Religiosa. Tem uma casa, a que chamam Hospital, onde se recebem os pobres passageiros, tão pobres que bem se parece os os mendigos que hospedam. Foi frustrada toda a diligencia, que se pôs na indagação do princípios da Casa da Misericórdia desta Vila. Sempre foi timbre dos antigos o empenhar ser mais no obrar, que no escrever. As Casas da Misericórdia foram constituídas para o exercício da caridade, e obras de Misericórdia nas esmolas, que quotidianamente nelas se dispensem; e o fundador desta Casa talvez acomodando-as com o preceito do Evangelho para que a sem escrito as esmolas, sua mão esquerda não soubesse o que a direita obrava não quis entregar à memória, deixando-nos em escrito as esmolas, que fazia, na Casa da Misericórdia que fundava. A sua renda é de cento e quarenta até cento e cinquenta mil réis.
Fora desta Vila em muito pequena distância há duas Ermidas a de S. Sebastião que pertence à Camera e a de Santo António que pertence ao Prior, como anexa que é da Matriz. Uma e outra têm Capelão: A de S. Sebastião tem obrigação somente de Missa nos Domingos; A de Santo António de Missa quotidiana. Tem a Ermida de Santo António três altares. No principal estão as imagens de Santo António titular da casa, São Gregório, e São Bento, que tem sua Confraria. No altar colateral está a Senhora do Carmo, que tem irmãos do Bentinho; e outro é de São Vicente Ferrer.
![]() |
| Ermida de São Sebastião |
![]() |
| Ermida de Santo António |
Na distância de 800 passos poucos mais ou menos está o antigo Templo da Senhora da Boa Nova, especial Patrona desta Vila. Foi este fundado, se damos crédito aos Autores que assim o escrevem, por Marhabal capitão cartaginês, e dedicado a Cupido formado de fina prata, e a aljava, e o Arco de ouro puro, três mil e seiscentos e três anos depois da criação do mundo, e trezentos e cinquenta e nove anos antes do nascimento de Cristo, como consta do Santuário Mariano 66 e da crónica de Fr. Bernardo de Brito.
É a arquitetura deste Templo por modo de uma torre capela de pedra parda na forma de cruz, coroado de ameias. Além do Altar Mor, em que está a Imagem da Senhora, tem dois colaterais: Um de Santa Catarina Mártir, e o outro de São Brás. Tem seu Capelão, a quem dá a Comenda que anda na casa do Conde de Vila Nova (de Portimão) moio e meio de trigo, e seis mil réis em dinheiro. Os (?) desta Igreja, e o mais que pertence ao culto divino são obrigações da Comenda. É esta Igreja da Ordem de São Bento de Avis.
![]() |
| Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova |
A principal festa desta Senhora é no dia, em que a Igreja celebra a da Senhora dos Prazeres com grande concurso dos pares em roda. São dos Pastores desta terra e das circunvizinhas os Mordomos da festa; trazendo em solene procissão na véspera, depois do sermão, a Sagrada Imagem da Senhora para a Igreja Matriz, e no dia pela manhã com a mesma correndo primeiro as ruas principais da Vila a acompanham à sua Casa onde prosseguem os cultos da sua solene festa.
O Senado da Camera desta Vila costuma festejar a mesma Senhora no dia 25 de Março e 8 de Setembro. Em o primeiro Domingo de Maio é a festa do Senado de Jeromenha (Juromenha). A Camera do Landroal (Alandroal) também festeja a mesma Senhora, porém não tem dia determinado. Os moradores da Freguesia de São Brás (Mina do Bugalho), e os da Ribeira de Pardaes (Pardais) vindo em romagem fazem a sua festa à mesma Senhora; aqueles no Domingo do Espírito Santo, e estes na primeira oitava da mesma solenidade. E nos demais tempos do ano são muitas as pessoas, que em romagem visitam a mesma Senhora.
Sabemos por tradição, que foram muitas as visitas, que os Sereníssimos Duques de Bragança faziam a este Sagrado Templo: e em memória desta sua Pia e Generosa devoção ainda hoje ardem as suas alampadas uma às expensas da dita Sereníssima casa. Foi o dito Templo, como consta do sobredito Santuário Mariano, consagrado a Maria Santíssima com o título de Boa Nova pela Rainha Dª Maria, mulher Del Rei Afonso II de Castela no tempo da invasão dos Mouros na Hespanha (Espanha), filha Del Rei D. Afonso IV de Portugal, por receber naquele lugar a nova, que o dito seu pai D. Afonso IV lhe concedia o socorro pedido contra os Mouros, que antes lhe tinha negado.
Os frutos da terra, que em maior abundancia recolhem os moradores desta Vila são trigo, cevada e centeio: e de árvores são abundantes os que recebem do arvoredo de azinho: porque possuem os sobreditos moradores do seu termo (Concelho) sete Herdades, juntas e umas separadas a que chamam Baldios, de montados de azinho, algumas das quais nos foram deixadas pelo seu antigo Donatário D. Gil Martins, para os poderem desfrutar e comer com o seus gados sem que nos ditos possam entrar gados de pessoas de fora: com obrigação porém de suprirem os gastos da Camera, onde não chegarem as próprias rendas: com o privilégio porém de se não tirar a Terça Real ( Doação que o Concelho fazia ao Rei da terça parte das suas rendas para que com esse montante o monarca provesse à manutenção das fortalezas do reino) das quantias dadas pelos moradores, como consta de algumas sentenças registadas nos livros da mesma Camera.
Além dos ditos Baldios à neste termo (Concelho) sete defesas (grandes herdades) e trinta e seis Herdades de montados de azinho; pelo que são abundantes os frutos deste arvoredo. Teve Juízes Ordinários esta Vila até ao ano de 1753, e o primeiro Juiz de Fora (Presidente da Câmara), que a petição de alguns seus moradores, lhe foi concedido, tomou posse em 8 de Outubro do sobredito ano. Tem Camera sem sujeição a outras justiças. Tem feira três dias, franca, que tem principio no dia oitavo de Setembro com os mesmos privilégios da feira de S. João de Évora, ainda que pela pequenez do povo dira só um dia até dois.
Não tem correio mas sim um estafeta posto pela Camera à seis anos, e pela mesma satisfeito; sendo conduzidas as cartas ao presente da Vila do Redondo distante duas léguas; e chegam na Quinta-Feira por noite e voltam na Sexta-Feira de tarde. O correio é de Estremoz distante quatro léguas, de onde parte à Quinta-Feira pelo mesmo dia pelo estafeta do Redondo. Dista esta Vila de Évora cidade capital do Arcebispado Sete léguas, e da Corte de Lisboa Vinte e Sete.
Têm os moradores desta Vila e Termo (Concelho) o privilégio de não pagaram direito de Portagem, como consta pelo Foral concedido pelo Senhor Rei D. Manuel aos 10 de Outubro de 1514, que se acha tombado (arquivado) na Torre do Tombo. Também pelo mesmo Foral, lhe é concedido a isenção de tributo algum das carnes ou (?) que se (?) no (?) de Terena ainda sendo pessoas de fora exceto o real da fortificação, que chamam o Real de água. Tem esta Vila seu castelo que se diz ser obra do Senhor Rei D. Dinis. Dos edifícios interiores, e particulares só se acham vestígios, e os poucos que existem se acham arruinados.
No Terramoto de 1755 cairão algumas partes superiores do dito Castelo, são notáveis: A sua torre grande recebeu algumas aberturas; e a abobada da mesma que já tinha princípio de ruina caiu toda trazendo consigo precipitada uma pequena casa em que estava recluso o Relógio governo desta Vila, sem o qual se acha até ao presente, sem ter experimentado reparo algum, o qual pertence ao Alcaide Mor. A Ermida de S. Sebastião pertence ao Senado da Camera, como dito está, experimentando algumas aberturas nas suas paredes se julgou conveniente deslançar em terra o seu teto par que com o seu peso não fosse maior a ruína e agora se acha esperando por reparo. A Igreja Matriz, e a Ermida de Santo António, que pelo Terremoto se virão com algumas aberturas, se acham inteiramente reparadas.
Corre junto desta Vila uma Ribeira com o nome de Luçafece (Lucefécit), termo divisório dos dois Termos (Concelhos) de Terena e Landroal (Alandroal). Tem esta seu nascimento em uma lagoa que está no sítio de Rio de Moinhos, termo (Concelho) de Estremoz, e de outras aguas, que descem da Serra doça (Serra D'Ossa), distante a dita lagoa desta Vila três léguas; e correndo pelas faldas da mesma Serra, paulatinamente (lentamente) vai engrossando suas correntes: passa pelos termos (Concelhos) de Três Vilas, Borba, Vila Viçoza e Landroal, correndo em (?) giros sempre solitária até que se avizinha de Terena em distância para mais (?), daqui passa junto a Ferreira Vila da Sereníssima casa do Infantado, distante uma légua; depois correndo outra légua entre o Baldio do Roncão deste termo e a Herdade do Aguilhão, termo do Landroal, entra no Guadiana (?) menos agradecido depois de lhe receber as águas tira-lhe o nome.
![]() |
| Barragem de Lucefécit |
São cinco léguas do lugar onde nasce até o Guadiana onde morre. Corre do Norte para a parte acima do Sul: Somente conserva a sua corrente neste termo, enquanto as chuvas lhe formão as mesmas correntes, que no estio se vêm extintas. É o seu curso neste País moderado (Clima moderado) sem muita precipitação, por serem planícies os campos por onde passa. É abundante dos peixes, que comumente há nas ribeiras pequenas desta província. As mais frequentes pescarias que nela se fazem (Que são livres) são no Inverno até aos fins de Abril. Fora mais piscosa esta Ribera se na sua foz não tivera um açude (Construção feita num curso de água, destinada a deter ou desviar água) alto e forte, que lhe impede a subida dos peixes do Guadiana com a do Luçafece subindo muito sobre o dito açude, o qual parece devia ser demolido, porque sempre o bem comum prevaleceu ao particular.
As suas margens neste termo há poucos anos que se vê começaram a cultivar com hortas de melão, e melancia, e os mais frutos, que costumam andar juntos. O arvoredo, que se vê nas suas margens é de Azinho, e o silvestre de Alandros, de que é abundantíssimo ainda no interior da ribeira. É este mato infrutífero, e de tal quantidade, que das suas flores, que só são agradáveis à vista, se não aproveita a Republica das abelhas para a misteriosa fábrica do seu trabalho.
Tem uma ponte muito capaz, que da livre e segura passagem aos passageiros, e ainda às carruagens, composta de seis arcos, obra de cantaria que contínua que domina as suas mais subidas e arrogantes inundações, que começam deste termo no sítio que vulgarmente chamam o Carrascal, descansa na margem oposta do termo do Landroal na raiz de um outeiro, em cuja eminência se venero o glorioso Mártir São Gens em uma Ermida que é da Ordem de São Bento de Aviz. Tem esta ribeira no termo desta Vila dezasseis Moinhos, e um lagar de azeite, a que chamam o Lagar da Ribeira, e no Guadiana dentro do mesmo termo, na Freguesia de Santo António (Capelins), se acham nove, e um no Ribeiro do Azavel. Entram na dita ribeira no mesmo termo Sete ribeiros de nome: o ribeiro da Silveira, o de Alfardagão, o da Albragaria, dos (?)adros, o Alcaide, o Garrão, (Carrão) e o Azavel.
![]() |
| Ponte Velha - 2006 |
No Baldio a que chamam Malhada Alta, à uma fonte, de pouca água, a qual chamam Santa, pois se tem visto, que bebendo-a muitos enfermos especialmente os que padecem de terçons, tiveram remédio nas suas queixas, o que atribuem a favor de uma Imagem de N. Senhora da Conceição, que está pintada na fonte, e não a especial virtude da sua água, por cujo motivo é visitada de muitos enfermos.
Esteve fundada esta Vila, ao longo da ribeira por cuja causa só estava a Vila longa, da qual era Matriz e se chamava a Igreja da Senhora da Boa Nova que ainda hoje conserva a Pia Batismal depois ou por inconstância dos tempos ou por ser menos saudável pela mesma vizinhança da dita ribeira, pela corrupção das suas águas.
No tempo do estio, se passou para a eminência onde se acha, e deixando o nome de Vila Longa (Nunca se conheceu nenhum documento de prova que tivesse oficialmente esta toponímia) tomou o de Terena. Dizem que por clamar neste sítio o postilhão: "Ter, ter, à Rainha D. Maria de Castela, que se retirava de Portugal, para lhe dar a nova do sunsídio, que já lhe concedia contra os Mouros, como acima dica dito".
Terena, 17 de Junho de 1758
O Prior Mathias Viegas da Sylva
Clique aqui para ver o documento original de onde foi transcrito o texto escrito acima.
Créditos para: Amigos de Capelins



.jpg)



0 Comentários