Ti Manel da Ladeira

Pastores Alentejanos - Créditos: Blog Postais Antigos do Alentejo

 

Manuel Ventura, de alcunha “ti Manel da Ladeira”, alto e delgado, sempre de bigode “à charlot”. Usava chapéu, colete e calças de Saragoça. Já o pai era agricultor. Tinha uns bons bocados, o velho! Diz-me o Manel Pisco:


- Vestia camisa de riscado ou de flanela, conforme a época do ano. Botas cardadas, às vezes com rodelas, pelico e safões de pele de ovelha preta. Morreu no ano em que fui prá tropa em 1972.

Quando rebentou a República estava ele na marinha. O meu avô foi levar os Reis a Inglaterra, no navio Pêro de Alenquer. O Rei D. Manuel, deu meia libra a cada marinheiro.

Só veio para as Hortinhas quando casou com a minha avó. Ele era de Ferreira de Capelins e a minha avó era de Marmelos. Veio morar para o Monte do Outeiro. O meu tio Estêvão, filho do ti Manel da Ladeira, passava pelo Monte Outeiro quando ia para a Feira de S. Francisco, que se realiza no dia 5 de Outubro, no Redondo e foi neste local e percurso que arranjaram namoro e casaram.

O velho comprou ali aquele bocado de terra, que é o Monte da Ladeira e ali nasceram todos os meus tios e a minha mãe. Quatro ao todo.

O percurso era o seguinte; vinha da Serra da Sina, passava ao Monte de Nabais, Monte de Bacelos, Monte de Mourão, que era propriedade de José Neves Rosado, de Terena, Monte das Limpas, Horta dos Escalda Rabos que era do “xico” das Courelas, avô do Zé das Courelas, Monte do Outeiro e neste local se enamorou de uma bela moça. Atravessava as Hortinhas, Monte de Santo Amaro, Monte Ambrósios, (já não está habitado) Monte da Cabeça Gorda e, finalmente chegava ao Redondo. Com exceção do Monte Ambrósios, os restantes estão todos habitados.

O ti Manel da Ladeira, tinha umas terras pegadas às do Zé Agostinho para onde deixou ir as porcas comer as boletas. Vai daí, o Zé Agostinho pegou num tanganho e foi à procura do Ti Manel da Ladeira, era meu avô. Encontrou-o lá no Monte Branco. O velho estava sentado à porta da casinha, nem lhe perguntou por onde as queria. Com o tanganho que já levava na mão, rachou a cabeça ao velho, que o ia matando. O desgraçado do velho ficou prá li estendido e sem que lhe fosse prestado qualquer auxílio. Às tantas, lá acordou e foi receber tratamento. E pronto, a coisa ficou por ali. Noutra ocasião, descuidou-se novamente e deixou ir as porcas para as terras do Zé Agostinho. Como já estava escaldado, tratou de carregar a espingarda de atacar pela boca, mal o Zé Agostinho apareceu, disse-lhe:

– Se passas daí prá frente, se metes um pé cá dentro da minha terra, ficas aí estendido.

O Zé Agostinho, não teve outro remédio senão dar meia volta.

– O ti Manel da Ladeira costumava dizer; Quando era novo “puta” nenhuma fez pouco de mim.

– Sim, mas deixaste-te bater por um parvo, diziam-lhe.


Autor: Luís de Matos

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