O Marianito

Terena - Rua Direita

O Mariano, por alcunha o Marianito, era natural de Terena. Nunca se lhe conheceu uma namorada. As moças até faziam chacota dele quando as mulheres mais velhas, na brincadeira, claro está, lhe sugeriam um namorico. O Marianito tinha uma pequena deficiência na fala, e por isso mesmo, quando se exprimia, era muito difícil compreende-lo. Por sua vez, os homens, também não o levavam muito a sério e nós, a gaitada também gostávamos de brincar com ele. Depois o Marianito, foi morar para o Alandroal para o Bairro dos Andorinhos. Logo ali à entrada, como quem vem de Terena. Terena ficou mais pobre. Estive muitos anos sem ver o Marianito. Em finais dos anos oitenta, comecei a vê-lo com mais frequência e até falamos algumas vezes, porque nutria por ele uma certa simpatia que me tinha ficado dos meus tempos de criança. O meu pai falava-me muito do Marianito. Estava sempre a contar-me coisas dele. Coisas que agora não me lembro. O Marianito sempre trabalhou nos montes como cozinheiro e, ao que parece muito bom e muito asseado. Um desses locais, foi no monte da Mota que fica entre o monte de Barrancos e S. Miguel da Mota, onde se situa o Endovélico, por conta do Manuel Inácio Belo. No monte da Mota, era ganhão o ti Moreira, das Hortinhas. O cozinheiro ao fazer uma açorda prá ceia meteu-lhe uns ovos. O ti Moreira, às escondidas do Marianito, foi também lá meter uns ovos, mas estes eram goros. Quando foram comer a dita açorda, deram os ovos goros ao Marianito. Ralhou, claro está. Mas logo se recompôs. E assim, que se apercebeu que os ganhões estavam distraídos, para se vingar do que lhe tinham feito, disse ao ti Moreira para ver se a água que estava na panela ao lume, estava quente. O ti Moreira, distraído, tratou de meter o dedo dentro da panela. Evidentemente que se queimou e vá de sair palavrão. Resposta do cozinheiro: 

– “Mariano come ovo goro, mas tu tamém mete mão em água quen (queria dizer quente)”.

Outras vezes, as pessoas perguntavam-lhe:

– Marianito! Onde estás?

Ele respondia:

– “Mariano tá de cozinhê à Mota. Trabalhador, honesto, um pouco “simples”e bem disposto.

Era assim o Marianito.


Autor: Luís de Matos

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