Terena, terra de ninguém

 O seguinte texto, escrito pelo senhor Jerónimo Major, foi transcrito do antigo Jornal da "BOA NOVA" do Mês de Maio de 2003.

Barragem de Terena

"Que maneira tão desastrada de começar a falar desta tão bonita e acolhedora Vila. Não devia ter empregue uma expressão tão drástica pelo mal entendido que pode gerar. Não levem isto à letra. O que eu quero dizer é que Terena, tem vindo progressivamente ao longo de décadas a ser esvaziada da sua população. Numa altura em que o parque habitacional (1) era muito menor, possuía mais do dobro dos habitantes que hoje tem, não obstante (2) as famílias que vieram doutros lugares para se fixarem aqui. Agora... impõe-se a pergunta! Então, se Terena tem características próprias, que fazem dela um lugar ideal para se viver, que razão tão forte leva os seus habitantes a abandonarem os seus lares, para se deslocarem para os grandes centros? A resposta é a mesma de sempre: não foram a procura de fortuna, não! Este povo, que ama a sua terra natal, já por diversas vezes ao longo da sua história foi obrigado a emigrar e sempre pelo mesmo motivo!

Uma questão de sobrevivência.

Consta que já em 1262, aquando do Primeiro Foral concedido a Terena por D. Afonso III, "D. Gil Martins veio encontrar esta terra deserta," Os terenenses, tal como todos os portugueses, tornam-se aventureiros quando a miséria lhes bate à porta. Assim foi também na era dos descobrimentos, e por tal motivo, muitos portugueses embarcaram em frágeis caravelas, enfrentando os enormes perigos desses desconhecidos "mares nunca dantes navegados," na esperança duma vida melhor!

Muitos terenenses emigraram levando no seu pensamento que um dia haviam de voltar, e alguns poucos voltaram de facto.. mas apenas para descansarem, já aposentados. Fogem do burburinho rotineiro e stressante que viveram,durante anos e anos, sem que no entanto tenham conseguido alcançar uma forma de vida, muito melhor do que a daqueles que por cá ficaram. Aqueles que por definitivamente, voltam para matar saudades da sua terra natal, pelo menos uma vez por ano e isto por ocasião da Festa dos Prazeres, - realizada em Abril em honra de N.ª S.ª da Boa Nova, - como mais uma vez este ano tivemos ocasião de constatar!

Terena tem evoluído e presentemente continua a evoluir... para melhor! Faz hoje uma grande diferença daquilo que era há trinta anos atrás. Quem se dá bem conta disso são aqueles que voltam cá, depois duma longa ausência.

Porém, infelizmente, Terena não é um polo de desenvolvimento capaz de gerar emprego; condição indispensável para atrair mais habitantes, e continuamos até a assistir à emigração dos jovens que procuram o primeiro emprego, por não encontrarem aqui a tão necessária ocupação laboral a que aspiram e têm direito! Com uma população envelhecida e sem oportunidades para os jovens, no futuro, esta encantadora terra pode vir a inverter o seu curso de engrandecimento, tal como aconteceu noutras épocas!... Daqui apelo a quem de direito, para que atempadamente se tomem as necessárias medidas que entenderem úteis, para que esta previsão, fatalista,(?) se não concretize, contribuindo desse modo para a redução do caudal da fonte de "energia para crescer" que desejamos. Fixar as pessoas à terra, é premente(3)!"

Jerónimo Major

(1) Parque Habitacional - Aglomerado de casas em um determinado local, com características em comum na construção.

(2) Obstante - Indica oposição a uma outra ideia exposta, mas que não é impeditiva. 

(3) Premente - Algo que não pode esperar, imediato, urgente.