Terena no Livro "Coleção dos Relatórios das visitas feitas aos distritos pelos respetivos governadores civis" de 1868

 

Ao longo das minhas pesquisas, em torno do passado e da história da Vila de Terena, tenho encontrado inúmeros livros que me despertaram curiosidade.

Um desses Livros, é intitulado “Coleção dos Relatórios das visitas feitas aos distritos pelos respetivos governadores civis” publicado pela Imprensa Nacional no ano de 1868.

Ao ler o mesmo, encontrei os seguintes parágrafos que falam sobre o Concelho do Alandroal, bem como as Vilas de Terena e Juromenha.

 




Relatório do Governador Civil do Distrito de Évora

 

Alandroal

Câmara Municipal

Encontrei nesta corporação decidida vontade de melhorar as condições dos povos do município, mas como quase todas as outras do distrito, lutando com grandes dificuldades pela falta de rendimentos próprios e elevada cota com que contribui para o cofre geral, e outras despesas inerentes à administração. Assim mesmo não tem descurado os melhoramentos da localidade: reparos na casa da câmara, empedramento das ruas, que todas estão bem calçadas, assim como algumas avenidas, limpeza e asseio das fontes publicas.

Não havendo a notar senão a falta de um cemitério com as condições precisas de salubridade, pois que o atual é situado no centro da vila e dentro do castelo. Fazendo ver à câmara o mal que dai podia provir à povoação, pois que nem o espaço preciso tem para os enterramentos, acordei com ela que no orçamento futuro, preterida qualquer outra obra, inserisse uma verba destinada à construção do novo cemitério, cujo local, com assistência e aprovação do respetivo facultativo, deixei designado. Louvei a câmara e em especial o seu escrivão pela boa ordem dos trabalhos da secretaria, arranjo de arquivo e regularidade que nele encontrei, com os seus orçamentos aprovados e respetivas contas. Tem em bom estado de cobrança os seus rendimentos, a que dá legal aplicação. As contas das juntas de paroquia tomadas e aprovadas. As amas dos expostos pagas em dia, assim como os respetivos empregados. Existiam no concelho em 30 de junho, 47 expostos, gastou-se com eles no ano de 1865-1866 a quantia de 624$741 réis, nasceram 29, morreram de todas as idades 15.

Há médico do partido camarário.

 

Administração do Concelho

Achei muito regular todo o serviço desta repartição a cargo do administrador José Joaquim Sollas, e só algum atraso na tomada de contas das irmandades e confrarias. Removendo pequenos embaraços que a isso davam causa, ordenei ao administrador do concelho que ultimasse este serviço sem demora, e fizesse constar àquelas confrarias que tinham a cobrança dos seus rendimentos em atraso, que não lhes seriam aprovados os orçamentos sem que pela amortização ou grande redução da sua dívida ativa mostrassem o ter sido diligentes na cobrança. A polícia está montada e é feita pelos cabos de polícia. Estão preenchidos todos os contingentes de recrutas até ao último ano inclusive.

 

Cadeia

Tem pavimento superior e inferior com pequenas dimensões, mas está bem reparada.

 

Misericórdia

O estado da administração interna deste pio estabelecimento é muito regular. Tem os seus orçamentos e contas aprovados, e é bom o estado de cobrança dos seus rendimentos. A não ser assim dificilmente poderia socorrer o grande número de enfermos que ali se acolhem, provenientes na máxima parte das minas do Bugalho e Zambugeira, próximas da Vila. Tomando disto conhecimento , e vendo que a casa com os poucos recursos de que podia dispor não podia com tantos doentes, fiz com que a administração da casa oficiasse aos administradores das sobreditas minas, pedindo-lhes um auxílio para ajuda do tratamento dos seus operários. Adotando a administração este parecer, imediatamente lhe oficiou, e ainda antes de eu terminar a visita tive a satisfação de saber que os administradores da mina da Zambugeira haviam respondido ofertando a quantia de 100$000 réis anuais para ajuda das despesas do hospital, oferta que diretamente lhe agradeci. Quanto à do Bugalho ainda nada sei, no entanto espero que também concorrerá, pois assim me asseverou em Estremoz o seu proprietário o cidadão José Rodrigues Tocha, com que a este respeito me entendi. Entre outras obras em construção no hospital acha-se muito adiantada a de uma boa enfermaria.

Este estabelecimento tem de rendimento 1:370$133 réis, que gasta, alem das despesas inerentes à administração e médico, com 180 doentes dentro do hospital(termo medio de um ano) e 320 socorridos em domicílio. O estado do edifício é bom, e pode acomodar, depois de acabada a nova enfermaria, 36 doentes.

Há comissões de socorros em todas as freguesias.

 

Mendicidade

Há no concelho 70 indivíduos que vivem da caridade publica, destes mendigam 40.

Estando anexa a este concelho a Vila de Terena (antigo concelho) destinei um dia para ali ir inspecionar a junta de paroquia, celeiro comum e misericórdia.

 

Junta de Paroquia

Tem a sua administração regular em contabilidade e cobrança, notando-se alguns defeitos de escrituração, que não afetam a legitimidade de suas contas.

Representado-me esta a necessidade que havia do alargamento do cemitério ali o fui ver, e reconhecendo a veracidade da representação, ordenei à junta que fizesse um orçamento adicional para levar a efeito a obra, e que o remetesse pela via competente para ser aprovado.

 

Celeiro Comum

Este estabelecimento, que hoje está a cargo da junta de paroquia, é o maior do distrito. O seu fundo atual compõe-se de 32.379 alqueires de trigo e 806$129 réis em dinheiro; hoje com os rendimentos acrescidos está elevado àquela quantia. Aqui, como em Mourão e Redondo, eu desejara fosse autorizada a venda dos fundos acrescidos para se empregar o seu produto em obras municipais.

A sua escrituração, ainda que com algumas irregularidades sanáveis, não está mal. Em atenção à importância deste estabelecimento, ao bom rendimento que ele dá para a junta de paroquia, ao rendimento da misericórdia, e juntamente aos rendimentos que hoje tem a junta de paroquia de Juromenha, que também pertence ao concelho, e de que abaixo tratarei, atendendo ao estado de decadência em que se acham esta povoações, faltas de tudo, e mais que tudo de gente habilitada para escrituração e contabilidade. No interesse da melhor administração destes estabelecimentos, fiz que a câmara criasse um lugar de amanuense que fosse provido em que tenha as habilitações precisa, com obrigação de nas épocas próprias ir àquelas localidades organizar orçamentos e dirigir a escrituração destas corporações, porque só assim se poderia regularizar. A câmara conveio, e estou que no ano futuro tudo estará como deve ser.

 

Misericórdia

Tem igualmente em bom estado a sua escrituração e contabilidade. Não tem hospital, mas apenas uma casa com duas camas onde são recolhidos os doentes até serem conduzidos ao hospital do Alandroal, onde são tratados a expensas da misericórdia de Terena, que também contribui com uma cota para o medico do Alandroal, a fim deste ali ir duas vez por semana visitar os doentes da vila. Tem de rendimento 463$010 réis que gasta com administração, médico e socorros em domicílio, 120 termo médio. Tem contrato com a misericórdia do Alandroal de dar-lhe 240 réis diários por cada doente que ali mandar tratar.

No dia imediato fui a Juromenha, distante 15 quilómetros do Alandroal.

Esta Vila, que em outro tempo era considerada praça forte, hoje desmantelada e em ruínas o seu castelo, está em completa decadência.

Examinando as contas e escrituração da junta de Paroquia, que hoje tem grande rendimento, em consequência de lhe terem sido concedidos pela junta geral do distrito os bens das confrarias extintas na localidade, achei que estavam regulares, porem em mui notável atraso a cobrança de seus rendimentos. Indagando a causa de semelhante desleixo, vim no conhecimento que provinha do pouco cuidado do procurador e cobrador da junta, motivo por que logo o fiz substituir por outro que me apresentaram como idóneo.

Visitando o cemitério e vendo que nem o terreno nem o local eram próprios, que era no centro da povoação, ordenei a fatura de outro em lugar que vi e já estava indicado por facultativo. Mandei fazer orçamento e que para a despesa fosse aplicado o saldo que estava na mão do tesoureiro, e o resto, se sobrasse, com o que se cobrasse das dividas devia ser destinado à reedificação da igreja da freguesia de S. Brás dos Matos, filial da de Juromenha, que desabou, e está profanada e em ruinas. O Pároco está dizendo missa e ministrando os Sacramentos em uma capela particular em que muito poucas pessoas cabem.

Tendo em tempo sido legalmente extinta a misericórdia desta vila por falta de irmãos que a administrassem, os seus bens e rendimentos foram entregues à junta da paroquia, com obrigação de dar anualmente ao hospital do Alandroal a quantia de 200$000 réis para ajuda da despesa feita pelos doentes que de Juromenha fossem ali tratar-se.

Compõe-se o concelho do Alandroal de 7 freguesias: Matriz do Alandroal (Nossa Senhora da Conceição), Senhora do Rosário, Senhora do Loreto, S. Brás do Mato, S. Pedro de Terena, S. Tiago e Santo António de Capelins, com 1.344 fogos e 5.803 habitantes, que pela maior parte se empregam no granjeio das terras, o que dá ao concelho muita importância agrícola. Exporta cereais, lãs, gado, queijos de cabra, legumes, laranja e cortiça.

Há neste concelho três escolas para o sexo masculino e uma para o feminino pagas pelo estado. São dois estabelecimentos de beneficência: Os hospitais de Alandroal e Terena.

Paga de contribuição para o estado 7:096$609 réis, para a câmara 716$906 réis, para estradas 917$337 réis, que estão em depósito.

 

Governo Civil de Évora, 25 de fevereiro 1867. O Governador Civil, Francisco Guedes de Carvalho e Menezes

 


Deixo o link para a visualização do livro no Google Livros: CliqueAqui!

Enviar um comentário

0 Comentários