No final do século XVIII, Dom José Cornide Saavedra, um espanhol que percorreu o Reino de Portugal ao longo de aproximadamente vinte e oito anos, registou a sua passagem pela encantadora Vila de Terena. Após essa visita, regressou a Castela, onde veio a falecer três anos mais tarde, em 1803.
O relato dessa experiência única encontra-se hoje preservado na Real Academia de História em Madrid, sob o título "COLECCIÓN DE DOCUMENTOS. OPÚSCULOS Y ANTIGÜEDADES QUE PUBLICA LA REAL ACADEMIA DE LA HISTORIA," no Tomo XXVIII, Artigo 5º. (Informo que a partir deste ponto, irei traduzir o texto original.) "Seis léguas a sudoeste da cidade de Elvas, sete a leste da cidade de Évora, à qual pertence eclesiasticamente, e duas a oeste do rio Guadiana, em terreno elevado e a meio quarto de légua do rio Lucefece, encontra-se a Vila de Terena. Esta domina um vale fértil que se estende para o oriente, percorrido pelo pequeno rio que desce da Serra de Osa e desagua no Guadiana em frente à Vila de Cheles, pertencente à Extremadura Castelhana. Carvallo afirma que o seu local original estava entre esse rio e a ribeira do Alcaide, e que por volta do ano de 1262 recebeu carta de foral de D. Gil Martínez, pai do Conde D. Martin Gil e sua esposa, Dona Maria Joana, foram agraciados com o senhorio desta vila, motivo pelo qual ele e o seu filho detiveram o domínio até que, por sua morte, passou para a Coroa. O Rei D. Manuel renovou o seu foral em 10 de outubro de 1514, e hoje o mantém, encontrando-se a Vila cercada por muralhas, incluindo um bom castelo na parte oriental. A sua população é de 219 fogos em uma paróquia dedicada a São Pedro, administrada por um Prior e dois Beneficiados indicados pela Coroa. O governo civil é confiado a um Juiz ordinário. Além disso, possui uma igreja da Misericórdia, um hospital e três ermidas, sendo que a de Nossa Senhora das Boas Novas, fundada pela Rainha Dona María, esposa do Rei D. Afonso XI de Castela ou filha de D. Afonso IV de Portugal, localizada a um quarto de légua a leste da Vila, apresenta externamente uma estrutura que se assemelha a um castelo, guarnecido na parte superior com ameias e outras defesas. Acredita-se que seja o local onde existiu o antigo templo do deus Endonvelico, de onde foram transferidas para Vila Viçosa, pelos senhores de Bragança várias inscrições votivas dedicadas a esta divindade desconhecida, as quais foram copiadas por Resende e outros antiquários. Uma dessas inscrições ainda pode ser vista na fachada da mencionada ermita, localizada em um campo próximo ao Lucefece, cercada por algumas azinheiras, que são as árvores mais comuns nos arredores desta Vila, que também é rica em cereais, gado e caça. A esta Vila pertencem tambêm duas freguesias, a de Santiago e a de Santo Antonio de Capelins, nas quais se contam 337 fogos."
Para aqueles interessados em explorar as palavras originais de Dom José Cornide Saavedra, o texto original encontra-se disponível para consulta aqui. Descubra os detalhes fascinantes da Vila de Terena através dos olhos de um viajante espanhol do século XVIII.
José Cornide Saavedra (1734-1803) |
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